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El amor de los hombres solitarios de Heringer Victor

de Heringer Victor - Género: Ficcion
libro gratis El amor de los hombres solitarios

Sinopsis

En la década de los setenta, durante los años de la dictadura militar, la familia de Camilo vive en una villa burguesa que desentona en medio del barrio de Queím, uno de los suburbios más pobres de Río de Janeiro. Los muros de la casa son la delgada línea que separa una vida acomodada, con servicio y piscina, del Brasil más popular, el de los niños que juegan al fútbol en las calles, rodeados de insalubridad y delincuencia. Una línea que se empieza a desdibujar para Camilo una mañana del asfixiante verano en el que cumple trece años, cuando su padre trae a casa por sorpresa a Cosme, un huérfano mulato de su misma edad al que la familia acoge. La llegada del chico hará saltar por los aires la apacible vida de Camilo, quien junto a él descubrirá el mundo de la calle, la camaradería y el deseo. Treinta años después, Camilo regresa a Queím, aún incapaz de superar la trágica muerte de Cosme aquel mismo verano, bajo un sol abrasador. El amor de los hombres solitarios es la segunda y última novela que el brasileño Victor Heringer publicó en su corta existencia. Se trata de una historia cálida y poética, que recorre el vasto abanico de emociones que acompañan al descubrimiento de la vida, la pasión y el dolor. Una obra a ratos festiva y a ratos descarnada, que abarca lo íntimo, lo social y lo existencial, zigzagueando entre los márgenes, en ese espacio inabarcable que separa la ternura de la más absoluta de las violencias. Una novela irrepetible, propia del talento de un autor único.


Reseñas Varias sobre este libro



Bárbara Heliodora, crítica de teatro e especialista na obra de Shakespeare, costumava dizer que qualquer brasileiro poderia encenar “O Auto da Compadecida”. Não porque a peça é excessivamente simplória, mas porque qualquer homem ou mulher nascido no Brasil se enxerga ali. O “Auto” é verdadeiro para qualquer brasileiro porque a realidade de um país atravessado por pobreza e sacralidade nos é imensamente familiar – é com ela que convivemos todos os dias, direta ou indiretamente, por vivência ou relato. Temos intimidade com a imagem da família que sofre, mas crê; que, encurralada por violências de toda sorte, olha para cima e acredita que a Mãe de Cristo ouve suas preces. Esse reconhecimento, esse princípio de identidade entre vida e arte, seria suficiente para que surgisse algo de vital, de verdadeiro e abrasivo, nos nossos mais modestos exercícios de atuação.

Pensei em começar essa resenha dizendo, num raciocínio parecido com o de Bárbara Heliodora, que qualquer pessoa poderia escrever um romance sobre primeiros amores. Ok, há um risco de exagero: sempre há alguém que não cabe no “qualquer pessoa”, como há muita gente que não cabe no “qualquer brasileiro” da crítica de teatro, mas a linha de pensamento se mantém. A universalidade da experiência, seja ela da pobreza e da fé, seja do afeto desmedido, se preserva. Digamos: poucos de nós tivemos a vida fatiada no meio por um assassinato, uma truculência mortal, uma queda da graça. Poucos passamos uma noite numa ilha deserta; pouquíssimos estivemos prestes a ser executados. Mas praticamente todos passamos por aquele que é o marcador quintessencial da transição infância-juventude, ainda que por vezes venha muito depois de a infância ter terminado: o primeiro amor. Praticamente todos experimentamos a transfiguração da existência em tempestade tumultuosa, repentina, que condensa toda a geometria do universo na imagem de alguém.

Assim – diz Victor Heringer, que no processo de elaboração de “O amor dos homens avulsos” pediu a internautas que lhe dissessem coisas sobre seus primeiros amores –, “Dimitri amou Cristina ou Estefânia, como Lucas amou Ana Carolina e Ana amou Murilo. Como Carolina amou Victor, Marília amou Leonardo, Rodrigo amou Amanda, Marcelo amou André, Nathalia amou Rodrigo, Mariana amou Cadu e Laura amou Antoine”. Algo nos moldes da célebre quadrilha de Drummond, com a diferença crucial de que, nesse caso, existe a promessa silenciosa da devolução — o presente mais precioso do mundo. Ninguém nunca ama de volta na quadrilha do poeta. Sem falar, é claro, na sensação muito mais veemente de onipresença, de que o amor está em todos os lugares, em todos os momentos. Enquanto você lê esta resenha, pessoas no seu bairro ou na sua cidade amam com uma intensidade que lhes é inédita, e que desenraíza princípios profundos. Eu, quando tive o meu primeiro amor, gostava de pronunciar as três sílabas do nome do meu menino repetidamente: o peso de cada uma me parecia exato, moldado com precisão e delicadeza, elegante, luminoso.

“O amor dos homens avulsos” é um livro sobre um primeiro amor, mas não é sobre nenhum desses primeiros amores enumerados no parágrafo acima, nem sobre as dezenas de outros que Victor Heringer elenca num dado momento da obra. O amor em questão é o de Camilo – o narrador-protagonista – e Cosme. Camilo amou Cosme, Cosme amou Camilo, e essa contradança abriu um buraco tão abissal no peito do narrador que, vejam só, foi preciso erigir um romance em homenagem ao que transcorreu.

“O amor dos homens avulsos” é a revisita nostálgica de Camilo à sua infância nos anos 1970, vivida no bairro fictício e escaldante do Queím, no Rio de Janeiro. Esse movimento reminiscente flerta com uma focalização no agora, que pouco a pouco o suplanta. Se o primeiro capítulo da obra diz respeito ao surgimento do mundo – quando, profere o narrador, “o chão era sujo de uma lama fervente e pegajosa” –, as páginas de encerramento debruçam-se sobre um presente agridoce e em tom menor, sob cuja superfície memórias calmamente pulsam. Eu não saberia dizer se o romance é um esforço de reconciliação: seria por demais simplista afirmar que, ao fim das 160 páginas, Camilo “fez as pazes” com o que aconteceu e pode enfim seguir em frente. A memória não funciona segundo a lógica médica da cura que vem depois do diagnóstico, da anamnese que precede a libertação. Pelo contrário: quanto mais multiformes se tornam as impressões que temos do tempo que passou, mais intricado e tridimensional é o seu efeito sobre nós.

De volta à trama: a infância transcorre com o embaraço de sempre até que, num dado dia, Cosme é trazido pelo pai de Camilo para casa. O garoto veio para ficar, e Camilo, que até então tivera como única companhia infantil na casa a irmã de sorrisos canhestros, reage com hostilidade à introdução do novo rapaz. Ressente-lhe a presença. Diante da primeira tentativa de fuga de Cosme, ridiculariza-o: “Burro garoto Cosme, mula”. Mas a narrativa habilidosa de Victor Heringer gradativamente faz com que, no meio desse lodaçal de rancor, desse estranhamento pueril, algo surja. E esse algo, a grande linha-mestra do romance, não é exatamente o amor: é a ternura.

Mesmo quando fala de assassinatos e dos porões da ditadura, ou da temperatura insuportável de um subúrbio carioca, ou da melancolia inevitável dos que passam a noite de Natal sem grandes famílias – mesmo quando fala de meninos e meninas abandonados, ou de uma sala de aula na qual se congrega todo o caleidoscópio da humanidade – mesmo quando a condição física de um garoto o impede de subir numa árvore para juntar-se àquele que, sem saber, já amava – mesmo diante da agrura, da crueldade, e do desastre minimalista, “O amor dos homens avulsos” transborda de ternura da primeira à última página. A prosa de Victor Heringer, pausada, é rica em períodos curtos não porque isso reforçaria a aridez da narrativa, mas porque o livro é um glorioso exercício de contemplação. O romance é curto, fragmentário, mas não tem pressa: mesmo quando oscila entre presente e passado, o faz sem grandes alardes, como se estendesse uma mão amigável ao leitor que caminha pela vida pedregosa de Camilo.

Não há melodrama. Em um certo ponto, o narrador afirma que não existe essa história de amar duas décadas em duas semanas, ou qualquer coisa que o seja. Quando se ama um dia, ama-se um dia, e muito desse dia é perdido em silêncios e obrigações, esvai-se em momentos de distração, de brigas frívolas, de desatenção. Se eu estou lavando a louça enquanto você dorme no quarto, estou te amando? Eu não sei, Victor Heringer não sabe, Camilo e Cosme não sabem; e no entanto é esse não saber que nos é oferecido. “O amor dos homens avulsos”, o título em si, talvez seja algo pleonástico, mas não deixa de preservar certa riqueza: todo amor tem um componente irreprimível de alheamento, de ser-desengonçado, mas também uma vontade vital de coerência. O amor sempre manca, mas nunca para de caminhar. Todos os homens são mais avulsos quando amam, e menos avulsos porque amam.

É à pintura de uma parte dessa caminhada errática e escorregadia que se prestam as páginas de Victor Heringer, entrecortadas por imagens, listas, desenhos, fotografias. Anda o amor, palmilha e tropeça o amor, e no seu caminhar as pessoas trocam pequenos presentes entre si: pedrinhas, recados, um livro sem capa, o que mais? Trota o amor, recua e ajoelha o amor, e ao longo do caminho há um medo horroroso de que algo esteja dando errado, um desejo materno de proteger a chama incipiente. Respira com sofreguidão o amor, toma apoio numa balaustrada, e enquanto coloca um pé na frente do outro acaba por tingir absolutamente tudo que o precedeu, assim como o que virá depois. O primeiro amor é um segundo nascimento, e a convicção que Victor Heringer tem dessa verdade desagua em cada uma dessas páginas.

Eu não sei se qualquer pessoa poderia escrever um romance sobre primeiros amores, como talvez qualquer brasileiro pudesse encenar “O Auto da Compadecida”. Seria preciso submeter a hipótese a teste.

Tracemos uma linha na areia: os que podem e os que não podem. De um lado, os que enxergam a multitude de ímpetos, o soçobrar interno, a cor, o cheiro, o primeiro beijo, a primeira mão aqui e ali, o eu e o outro transformados num caos – e sabem falar de tudo isso. Do outro lado, os que teriam o espírito torpedeado e ficariam paralisados, de boca aberta, sem saber o que os atingiu. Victor Heringer definitivamente pertence ao primeiro grupo e, como tal, assegurou seu lugar do lado de lá da nossa linha na areia. Uma obra-prima.2010s31 s Marcela DantésAuthor 7 books42

Reler esse livro agora, que coisa difícil, doída e doida. Um dos romances mais importantes dos dias atuais, um choque. Um buraco. Um puta livro de um puta escritor. E a gente que perde, perde e dá vontade de nunca mais rrarrarrir. Vai bem, Victor Heringer.32 s od1_40reads240 76

Oh myÂ…
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